sábado, 26 de junho de 2010

Mauricio lança filme em 3D e começa a cuidar da sua sucessão no estudio dos quadrinhos!


SÃO PAULO - Em meados de janeiro passado, quando São Paulo sofreu com um daqueles temporais de verão que transformam o relevo da cidade nas cataratas do Iguaçu, o cartunista Mauricio de Sousa e o filho Marcelinho foram pegos numa inundação quando retornavam de carro de um jogo entre Corinthians e Bragantino, no Estádio do Pacaembu. "Meu carro engasga e para numa rua que não devia ser rio", escreveu ele em seu Twitter, onde tem quase 82 mil seguidores. "O carro já começava a balançar na água. Ia virar barquinho", relatou, depois que a filha Marina, de 24 anos, que aprova com o pai os roteiros de suas histórias em quadrinhos, foi lá resgatá-lo.




Mauricio tirou fotos do temporal e postou na internet. Aliás, twitta ferozmente todos os dias e sobe fotos para a rede, especialmente dos jogos da Copa do Mundo ou de suas próprias peladas. E responde a mensagens de fãs. E cuida da produção do primeiro longa-metragem especial de Natal da Turma da Mônica, que será exibido este ano na TV Globo. E fecha contratos de licenciamento de 2,5 mil produtos em 126 países. E prepara o lançamento dos livros de quadrinhos da Turma da Mônica Jovem (já há 30 mil exemplares vendidos sem os livros terem sequer saído das gráficas). E finaliza a estratégia de distribuição do filme de animação da Turma do Penadinho em 3D.



Assista a trecho do filme da Turma do Penadinho:



Já virou clichê chamar o mais bem-sucedido e popular criador de histórias em quadrinhos do país de irrequieto e criativo aos 51 anos de carreira. Mas é exatamente assim que ele se vê.



- Qual foi o melhor momento da minha trajetória? Bem, eu acordar hoje com todo o gás é sensacional. Estar assim no primeiro dia do resto da minha vida é melhor ainda - diz ele, sentado em sua ampla sala no maior estúdio de quadrinhos do Brasil, a Mauricio de Sousa Produções.



Trata-se de um prédio de seis andares no bairro da Lapa, Zona Oeste de São Paulo, um lugar onde está à vontade entre bonecos, mochilas, quadros, revistas, livros e desenhos de seus mais de 200 personagens, hoje espalhados em 126 países, falando cerca de 50 idiomas, do chinês ao javanês.



Mauricio é uma usina de ideias que, aos 74 anos, nem pensa em parar. Mas o projeto que ele considera hoje o mais importante olha para o futuro, mais do que para o presente. O artista contratou o escritório Abe, Costa, Guimarães e Rocha Neto Advogados para cuidar da sucessão em seu estúdio. Em um ano, os consultores entregarão a ele o formato de um projeto que definirá o novo comando da empresa, cargo que poderá ser ocupado por um dos vários parentes que hoje trabalham nela ou por um profissional vindo do mercado.



- Há muita gente da família trabalhando aqui. Só de filhos são seis (ele tem dez ao todo). Quem é profissional, finca o pé e realmente realiza está aqui e vai ser preparado. Quem não estiver, que não atrapalhe. Então o processo sucessório é para que não haja tropeços no progresso da empresa ou na perenização do nosso negócio e dos personagens. Não é para sempre que eu vou estar aqui. Irei muito a contragosto, mas, no momento em que eu for, não quero deixar uma bomba-relógio sem uma indicação do que possa ou deva acontecer. - diz ele.



Outro plano acalentado com atenção é tão complexo quanto: o projeto de produção de revistas educacionais para o governo da China e o lançamento da Turma da Mônica no país de 1,3 bilhão de pessoas.



- Na última feira do livro, em abril, os chineses vieram me pedir projetos de gibis. Não tem fim o que a gente pode brincar de fazer lá. O personagem Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, é publicado em 32 idiomas, um fenômeno. Só na seleção do Dunga é que ele não é. Muito maior que o Pelezinho, porque o personagem se beneficiou das novas tecnologias e de um sindicato que tem ótima distribuição, a Universal, o mesmo de Garfield - afirma.



Convicto da importância dessas novas tecnologias, que ele chama de "diferentes plataformas", Mauricio define seu estúdio hoje como um "grande criador de conteúdo". No mundo real, ele vende mais no Brasil que a Disney. São três milhões de revistinhas no país por ano. No mundo virtual, o negócio vai igualmente bem. Seu site da Turma da Mônica tem mais de 60 milhões de visitas por mês. E no site Máquina de Quadrinhos, que permite a qualquer um fazer sua própria HQ, foram criadas 250 mil histórias em seis meses.



Essa lucrativa versatilidade - Mauricio não fala sobre o faturamento de sua empresa desde que Marcelinho, de 11 anos, foi sequestrado em São Paulo, em março de 2008 - tem um trunfo. Ou melhor, dez trunfos. O artista admite que sempre se atualizou, em termos de linguagem e hábitos infantis e juvenis, com a ajuda de seus dez filhos de quatro casamentos, cujas idades variam entre 11 e 50 anos.



- O truque do artista é não ficar falando a língua de ontem, não ficar preso à sua idade cronológica, mas no que a rapaziada está conversando. Hoje, a garotada de 10, 12 anos está falando a língua do dia, não mais o tatibitati da pré-adolescência. A criança de 12 anos não é a mesma de 30 anos atrás. A infância foi encurtada e é preciso estar atento a isso. Quem engessar o produto entra para a História, vira marco cultural. E quem quer ser marco cultural enquanto está respirando ainda? De jeito nenhum - afirma
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